segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Afonso Misericórdia

Um jovem rapaz , de cabelos castanhos ondulados, aparecera na venda do Seu Arnaldo. Tinha um rosto sombrio, não sorria, não falava muito, apenas o essencial.
De sete em sete dias ele aparecia na venda sobre seu cavalo preto, cavalo este muito bonito, diga-se de passagem, cada qual mais misterioso que o outro. A única coisa que o moço dizia era que queria um caprichado trago de pinga e um torresmo para acompanhar seu gole.
Suas visitas passaram a ser mais frequentes, e os moradores daquela vila passaram a ficar mais curiosos com a presença do jovem, pois ninguém sabia suas origens e muito menos seus interesses naquela região tão isolada.
Alguns diziam ser um criminoso foragido, outros diziam que era um viajante solitário, diziam até que era uma alma penada, que estava vagando para pagar seus pecados. Mas o certo é que estavam todos errados.
Afonso Misericórdia era seu nome, Veloz era o seu cavalo, juntos completavam uma missão no sertão da Bahia, missão que ninguém sabia ao certo qual era. Afonso soltou em certa prosa com Arnaldo que trabalhava para alguém muito grande, e que esse trabalho tomava seu sono,
tomou sua família, seus amigos, seu sossego, sua vida.
Os boatos eram cada vez maiores, mas ninguém ousava perguntar.
Na Vila Funchal havia um cabra metido a ser valente, seu nome era José Colhões, já estava ficando enfurecido com o misterioso homem, pois o moço não despertava apenas curiosidade, também despertava interesse em todas as mulheres que se encantavam com sua magia e com seus longos cabelos castanhos.
Era 03 de outubro de 1957 quando Afonso Misericórdia fizera sua última visita à Vila Funchal, desceu devagar de seu cavalo, amarrou Veloz junto à uma árvore, e pediu seu último trago à Afonso, em 5 segundos já havia acabado com sua cachaça, acendeu um pito de palha e se sentou. Na sua frente em sua mesma mesa se sentou José Colhões e lhe perguntou:
- Quem é você cabra misterioso? Acha que pode chegar em nossa vila e nem se apresentar?
Afonso o olhou desviando o olhar da aba do chapéu e respondeu em um tom bem tranquilo:
- Não sou de seu interesse amigo, venho em uma missão de paz...
Depois dessas palavras Afonso colocou a mão no bolso de traz para tirar alguma coisa, sem pensar duas vezes José Culhões sacou o revólver e deu dois tiros no jovem. Afonso caiu agonizando no chão, segurando com muita força algo entre seus dedos.
José se precipitou e abriu as mãos do morto, tirando dela um colar em formato de coração.
José exibiu o colar para todos que estavam na Venda, enquanto mostrava o objeto se abriu, revelando duas fotos.
Naquele momento o terror foi profundo, gritos de desespero foram ouvidos a léguas de distância, uma foto era de Maria Antonieta, mãe de José Colhões, a outra era de Afonso Misericórdia, seu irmão desaparecido há 15 anos e que ali estava a procura de seus entes.
José foi encontrado morto dois dias depois, com o mesmo colar apertado em suas mãos e com uma bala cravada no peito.

Jordano Souza

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