quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Desabafo

Nesse ultimo dia do ano irei postar algo que escrevi a muito tempo atrás.Não me preocupava com a forma que escreveria, mas sim com o que transmitiria...
Escrevi esses versos a 4 anos atrás, mas ainda hoje são atuais para mim.


Jamais poderei transmitir com minha boca
O que sinto por dentro,
Jamais poderei pedir socorro
Com o coração se fragmentando em emoções,
Jamais seria egoísta a ponto de dizer que sou frágil
Quando meu criador esbanja sofrimento.

Por que não esconder comigo?
Por que não lutar contra meu eu?
Nem pensamentos,nem a ciência
Jamais explicariam a força
Que nos proporciona um sentimento maior...

Maior que a fragilidade
Maior que a luta dos nossos interiores.
Então registro em papeis palavras
Que nunca decifrarei depois desse vão momento.


Jordano Souza

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Meu Plano

Meu plano seria infalível,
Seria calmo como uma fotografia antiga,
Abusivo como uma dançarina de bordel,
Acolhedor como um sermão de domingo.

Colheria várias flores
Vermelhas como seu batom predileto.
Oraria shakespeare aos seus ouvidos,
Demonstraria o amor que jamais recitei.

Cantaria nossa música,
Ou tocaria aquele acorde dissonante.
Riríamos de tantos momentos desconcertantes,
E lamentaríamos por tão pouco tempo juntos.

Dir-lhe-ia minhas aflições,
Meus segredos mais singelos.
E confessaria que ainda hoje
Lembro das ultimas palavras que me disse:
“Deus te abençoe”

Quem sabe não te encantes com meu plano
E resolvas me visitar?
Espero-lhe sorrindo, com os olhos aguados,
Na certeza de que minha felicidade
Em seus braços transbordaria.


Jordano Souza

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Nostalgias

Aqueles dias sempre estarão presentes na minha vida,
Dias de glória de prazer e salvação.
Fui feliz sem fazer idéia,
Na névoa embaçada escondi minha felicidade.
Resolvi reservá-la para mim, fui egoísta
Refugiei-me à goles de melancolia.
Fui refém do egoísmo, me senti como um mercenário
Pronto para vender meu próprio coração.

Fingi não sentir o cheiro dos bons momentos,
O que se passava em mim parecia ser mais interessante.
Erros cometidos que nos trazem a sensação de saudade,
Mas é apenas nostalgia de um momento passado.
Nostalgias simples, diretas e secas,
Não nos enganam nem nos ensinam,
Nos mostram apenas o sentido errado dos valores.

Jordano Souza

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Visitas Impertinentes

Rosana fora nascida e criada em São Paulo, educada em uma escola de freiras, pouco contato teve com os perigos da vida, jamais saiu sozinha durante a noite, e nem nos tempos da faculdade se acostumou com as badalações.
Vivia em um apartamento no Morumbi, morava com sua mãe e com Doralice, sua irmã mais velha, seu pai havia suicidado há 16 anos, quando ainda era pequenina. Doralice era o oposto de sua irmã, boa vivã, sempre aproveitou a vida ao extremo, teve muitos namorados e conheceu vários lugares
Apesar do tamanho e do alto índice de criminalidade de São Paulo, a família Vieira nunca tinha sofrido com violência, Rosana e Dalva, sua mãe, sempre tomaram todos os cuidados quanto à isso, mas Doralice...
Era uma manha de domingo, o relógio apontava nove horas, e Doralice ainda não havia chegado em casa, e para aumentar o desespero da família o seu celular estava desligado. Claro que Rosana e Dalva pensaram o pior, e infelizmente o sentido feminino das duas estava certo. Doralice estava saindo da boate “Night Bórium” quando foi alvejada mortalmente por uma bala perdida.
Depois de vários meses de puro desespero as sobreviventes da família Vieira resolveram se mudarem de São Paulo, havia uma tia de Dalva que morava no interior, mais especificamente em Jaboticabal. Venderam o apartamento no Morumbi e uma casa antiga que tinham na Avenida São João e com o dinheiro das negociações compraram uma fazenda na cidade de destino.
A adaptação à vida interiorana foi fácil para as duas, pois aquele espírito pacato de Rosana tinha sido herança de sua mãe, que foi criada no interior. Acordavam bem cedo para ordenhar as vacas e ajudar Seu João a pastorar as ovelhas, tiravam da lã e do leite o sustento da fazenda. À cidade iam apenas aos finais de semana, para fazer compras e almoçar em algum restaurante de comida mineira.
Nos domingos a dor pela perda de Doralice aumentava, durante a semana ainda conseguiam disfarçar tal sofrimento, mas o domingo guardava uma ressaca de melancolia que se espalhava por toda a fazenda, nem a roda de viola que Seu João organizava amenizava a dor.
Havia dias que Rosana não conseguia dormir, barulhos macabros estavam assombrando a velha casa de assoalho. Era inevitável, todos os dias quando o relógio da sala marcava três horas da manhã em ponto, podia-se ouvir vários passos na cozinha, panelas caindo e gruídos que assemelhavam-se à risadas.
No início Rosana pensava ser sua irmã que à vinha visitar, pois a madrugada era o momento do dia preferido de Doralice. Levantava-se e ia até a cozinha tentar contato, mas tudo que encontrava era um cenário totalmente desarrumado, com comida e panelas pelo chão. Dalva também não deixara de observar aqueles acontecimentos estranhos, e passou a ter dificuldades para dormir.
Histórias não faltavam, ouviram dizer que um antigo dono do sítio havia se enforcado na mangueira do quintal - cortaram a mangueira! Também disseram que um capitão do mato tinha esquartejado um escravo fujão na casa de madeira que se localizava à direito da casa principal - derrubaram a casa! Disseram também que uma garotinha havia se afogado no rio que passa rente à fazenda, mas do rio não podiam se livrar!
Chamaram padres, pastores, bezendeiras, pais e mães de santo, mas ninguém resolveu a situação, pelo contrário, cada visita só aumentava os barulhos.
Como nem os religiosos conseguiram resolver o problema, as duas decidiram resolver por si próprias, passaram a dormir na sala, e toda vez que o relógio marcava três da manha saiam correndo em direção à cozinha, e não encontravam absolutamente nada! “Esse espírito é realmente muito ágil” pensavam as duas intregadas.
Seguindo o conselho de Dona Dulce, tia de Dalva, começaram a dormir na próprio cozinha, e Dulce estava certa, se aproximando do território inimigo há mais chances de encontrá-lo.
Já na segundo noite que dormiram no local, Rosana foi atacada pela entidade maligna. Estavam as duas deitadas ao lado da mesa de sucupira, quando Rosana sentiu algo passeando sobre seu corpo, como se fossem pequenos dedos lhe massageando a pele macia, no inicio pensou ser sua mãe, mas quando fitou sua barriga enxergou dois olhos vermelhos arregalados lhe encarando. Deu um grito imenso acordando toda a fazenda, sua mãe aterrorizada levantou em um pulo já com a espingarda em mãos!
Talvez Rosana e Dalva preferissem que fossem realmente almas penadas que estivessem assombrando a casa, mas era muito pior aos olhos delas, o que diziam ser espíritos não passavam de pequenos roedores que iam à cozinha durante a noite para assaltar os restos de pães que ficavam sobre a mesa...


Jordano Souza

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Um dedo de Prosa

Essa semana estava na Rodoviária de Brasília tomando um café, pensando na vida, e como sempre faço, comecei a observar as pessoas (vício de quem gosta de escrever). Avistei um homem sentado em um dos bancos de espera, tinha uma aparência bem singela, calça de linho, camiseta de campanha política, chapéu panamá já bastante sujo e sapatos bem desgastados. Tinha os olhos distantes, parecia estar ansioso para algum encontro especial.
Passou uns dez minutos e chegou outro rapaz, que se sentou no banco ao lado. Este era bem diferente do primeiro, usava tênis da moda, bermuda estampada, óculos escuros e tinha muito gel no cabelo. Mesmo com tanta diferença deve ter ficado curioso com o ar de mistério daquele sujeito ali parado, e começou a puxar papo:
- Boa tarde!
- Boa tarde senhor...
-Ta quente hoje hein?
- É... Demasiado.
- Você não é daqui, ou é?
- Sou não senhor.
- De onde veio?
- Minas.
- Olha só, conheço Minas!
- Bom uai...
- O que o senhor faz da vida?
- Escrevo.
- Interessante... E o que escreve?
- Palavras.
- Disso eu sei, mas qual o estilo do seu texto?
- Estilo do meu texto? Uai, ele é meio feio pra te falar a verdade, é que eu não frequentei muito tempo a escola, então minha letra não ajuda muito.
- Acho que não entendeu, não estou perguntando se sua letra é bonita, quero saber sobre o que gosta de escrever!
- Sei não.
-Não sabe sobre o que escreve?
-Nunca parei para pensar, escrevo sobre tudo, sobre a vida.
- Deixa pra lá!
- O senhor que cismou de perguntar!
- Ta bom, desculpa. Pra onde vai viajar?
- Vou ver minha mãe.
- Que bom, e onde ela mora?
- Acho que é em Aparecida do Norte.
- Você acha?
- É...
- E como pretende encontrá-la?
- Quem tem boca vai à Roma, oras!
-Acha que vai ser fácil assim?
- Só vou saber se tentar...
-E se não encontrá-la?
-Sinto que encontrarei.
- Santa Maria! E como é o nome dela?
- Esse mesmo...
-Esse mesmo?
-É...
-Esse qual?
-Santa Maria.
Emocionei ao ouvir a última resposta do misterioso rapaz. E confesso que senti uma pontinha de inveja, minha vida seria um fardo bem mais leve se tivesse pelo menos um terço dessa pureza nos meus pensamentos.

Jordano Souza

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Complô do cotidiano

Acordei feliz, com um humor de dar inveja, estava decidido que não deixaria nada me abalar, mas como sempre a vida me prega peças, peças essas que não consigo simplesmente engolir.
Fui fazendo o que normalmente faço, escovei os dentes, tomei meu café na mesma xícara de sempre, e ali mesmo, na mesa, comecei a ler o jornal. No momento em que passei os olhos nas manchetes percebi que o mundo preparava um complô contra minha alegria, não queria me ver feliz! É assalto de um lado, chacina do outro, corrupção aqui, bala perdida aculá.
Comentei sobre o plano maligno do universo com minha mulher, mas como sempre ela me achou um lunático, resolvi não me abalar e segui para o trabalho. Mas antes passei em uma padaria para comprar um maço de cigarros. Quando olho nas costas do maço, percebo uma foto de um sinal de negativo, encenando impotência sexual. Aquilo foi um soco no meu pâncreas! O que querem afinal? Querem que além do meu vício eu desenvolva uma depressão ou uma gastrite?
Engoli seco e entrei no carro, segui para o meu destino sem mais preocupações, fumando o meu “broxante”. Desci do automóvel, peguei meus papéis e tranquei a porta. Quando menos esperava, apareceu não sei de onde, adivinhem o que? Isso mesmo! Um flanelinha, e logo me sugeriu:
-Óia tio, é melhor o senhor deixar eu vigiar seu carro, o senhor sabe que tem muita gente má intencionada hoje em dia, alguém pode querer arranhar sua lataria...
O complô estava proclamado, queriam abduzir minha paciência! Fechei os olhos e contei até mil, abri um sorriso amarelo e fingi não ter entendido aquela ameaça explícita, e claro, deixei o “ameaçador” vigiar meu carro, e ainda lhe dei uma nota de dois reais.
Durante todo o trabalho não aconteceu nada que abalasse meus ânimos, planejava ir para casa tranqüilo, para poder jantar em paz com minha mulher.
Mas que engano, sai do escritório e me dirigi ao carro, entrei, coloquei o cinto e girei a chave, mas quem disse que conseguia sair normalmente? Algum peso sobrenatural não deixava as rodas girarem suavemente como de costume. Depois de várias tentativas desci para averiguar o que estava acontecendo. E adivinhem caros leitores! Exatamente! A força sobrenatural era um furo no meu pneu, furo que provavelmente foi feito pelo flanelinha, que deve ter se irritado com o “pouco” dinheiro que eu lhe dei.
Fui obrigado a pegar um ônibus, depois de um longo dia de trabalho!
O complô contra meu humor não cessava. Ônibus lotado, pessoas se esfregando, freadas que nos jogavam longe, gritarias...
Cheguei em casa, tomei uma bela dose de licor para acalmar, e em seguida fui assistir TV com minha esposa.
Mas como sou azarado! Era o ultimo capítulo da novela das nove! Fui obrigado a assistir toda a novela calado, sem reclamar! Choros, brigas, traições, amores platônicos, casamentos, vilões se dando mal... Os autores de novelas realmente usam de tudo para subestimar nossa inteligência.
Resolvi dormir logo, antes que um raio resolvesse cair sobre minha cabeça!

Jordano Souza


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O verdadeiro perdão

Essa noite não mais dormirei,
Ficarei lembrando do seu pranto
Que por minha falta de acalanto,
Com minhas mãos, suas lágrimas derramei.

Escreverei versos desesperadamente,
Buscando de ti o verdadeiro perdão,
Encurralado, sozinho na escuridão,
Buscando a rima adjacente.

Sei que o pretérito não posso curar.
Recordo sim das palavras de despedida,
Porém discordo, pra mim deve voltar.

Em meio à madrugada encontrei a certa rima.
Confesso,te juro, não vejo saída,
Nossa própria história devemos traçar.

Jordano Souza

Nosso Tempo

Beijo a beijo.
Corpo a corpo.
Gozo a gozo.

Assim contamos nosso tempo:
À cada respiro os segundos se adiantam,
À cada olhar as horas se decepam,
À cada movimento nos unimos mais.

Ao passar os dias não sabemos quem é quem.
Os olhares se misturam,
Os movimentos sincronizam,
A respiração afaga ambos...

Beijo a Beijo.
Corpo a corpo.
Gozo a gozo.

Jordano Souza

sábado, 14 de novembro de 2009

Derradeira Aparição

Acordei com um sorriso de jornal.
Gritei teu nome ninguém ouviu,
Observei a lira da manha,e mais.

Foliei o albúm e o cetim.
Corri praquele lugar,
Que primeiro te vi.

Talvez bem mais que o acaso.
Senti a derradeira vibração,
E ao lado te senti.

Fui ao encontro te beijar.
Tive um susto, um devir,
Aquela não era você.


Talvez bem mais que a razão.
Acordei e pude entender,
Foi mais um daqueles sonhos com você.

Não chorei nem ressenti.
Me peguei a agradecer,
Como é bom te rever.

Jordano Souza

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Não se entregue

Fiz essa música a algum tempo atrás, para alguém muito especial. Mas o interessante é que ela remete muita à mim também...
São versos bem simples, porém com muita verdade.


Durma bem, aperte bem os olhos
Para se esquecer de tudo que passou.
Tente sonhar, quem sabe até realizar.
Como seria o dia perfeito?

Não jogue tantas lágrimas fora,
Guarde-as pra quando realmente precisar.

Não se entregue ao menos uma vez,
Seja forte com você mesmo.
Não se entregue ao menos uma vez,
Mesmo quando quem você ama partir.
Não se entregue ao menos uma vez,
E lembre-se dos versos, que eu fiz pra você.

Abra sua cabeça, na vida não vivemos de sonhos.
Corra atrás do que deseja e sentirá como tudo melhorou.
Não, não jogue tantas lágrimas fora,
Guarde-as pra quando realmente precisar.

Não se entregue ao menos uma vez,
Seja forte com você mesmo.
Não se entregue ao menos uma vez,
Mesmo quando quem você ama partir
Não se entregue ao menos uma vez,
E lembre-se dos versos que eu fiz pra você.

Jordano Casanova

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Essencial

Se todos os dias fossem inundados de sorrisos e ausentes de lágrimas e aflições. Ao deitarmos em nossa cama ao final dos mesmos, não teríamos aprendido completamente nada.
Lágrimas e tropeços são essenciais, gozos são as consequências...


Jordano Souza

domingo, 11 de outubro de 2009

O Beijo

O beijo envolve, se desloca
Cumprimenta e por fim diz adeus.
Encaixa, o beijo expulsa
Trai, o beijo se defende.

O beijo mente, se arrepende
Ama, o beijo faz sofrer.
Nos envolve de prazer, acoberta de encanto,
Esfria, aquece, ferve, borbulha e esfria novamente.

O beijo quebra distância,
Destrói todo e qualquer preconceito.
Une nações e corações.

Beijo é egoísta, pende para seu único favor.
Enfrenta hipocrisia causada pelos mesmos que também beijam,
Beijo é ódio, flerte... As vezes, bem as vezes, beijo também é amor.


Jordano Casanova

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Suave

Suave são os beijos das putas,
Que recebem para tal ofício.
Suave são os goles dos bêbados estarrecidos,
Pois deles vêm a maturidade d'alma.


Suave são os golpes dos sem caráter,
Pois são desprendidos das virtudes da humanidade.
Suave são os gritos dos pobres,
Que tem berros que não atingem ninguém.






Jordano Souza

sábado, 13 de junho de 2009

Palavras Bonitas

Banana,caramelo,beijo molhado.
Acerola,tuti-fruti,couve-flor.
Mãe!Hoje quero abacate batido com mamão,
E aquela bolacha de rapadura que derrete com café!


Cheiro de terra,gosto de infância,
Quantas palavras bonitas!
É tão bom escrever palavras assim.
É bom escrever sem vergonha na cara,
A escrita pra mim é praticamente uma tara!
Não sei viver sem.


Pé de moleque ,goiabada com queijo,
Feche os olhos e me diga um desejo!
Farei de tudo para realizá-lo!
Palavras bonitas,saem sem eu perceber!
Se eu premeditasse não sentiria tanto prazer.

Jordano Souza

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Minha

Vidas distintas, opostas, incógnitas imperfeitas
Juntadas pelo destino oblíquo
Que resolve brincar de fazer amor.
Nos faz ter necessidade da pessoa que nunca imaginamos conhecer,
E que machuca se não chamá-la de minha.

Mundo estranho esse...
Onde as mesmas pessoas que erram
Nos fazem felizes por alguns instantes,
Ou até mesmo pelo resto de nossas vidas.

Se chega a despedida
Sei que logo posso voltar a vê-la,
E -vê-la, -vê-la e -vê-la em tudo que imagino.

Palavra obscura,
Difícil de ser decifrada
Se te amo tanto e não sei nomear,
Nada melhor do que chamá-la de minha.


Jordano Souza

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Noite

Caminhando sozinho nas madrugadas eu me conheço melhor. Quando estou sozinho posso falar o que quero e dar-me as respostas que convém. As madrugadas para mim têm cheiro, cor e sentimento.
Nos becos encontro bêbados sujos e desgraçados bem mais interessantes que padres e políticos, a loucura revela a inteligência bem mais que um canudo ou uma medalha.
Os olhares das putas parecem sempre ter o que dizer; essas sim devem saber o verdadeiro gosto nojento da vida, elas sim têm muito mais a contar do que nós metidos a escritores.
Descobri também o porque do sol fugir. Durante a noite ele some para que as pessoas percam a vergonha na cara, vergonha de viver, de gozar, vergonha de dizer o que bem entender. A claridade nos prende a uma realidade hipócrita e conservadora, que todos querem distância, sem exceção, esse é o segredo mais intimo das mulheres e homens direitos.
O álcool também é santo com sua libertação, é o verdadeiro tom Divino que abençoa a noite. Bebemos ele também durante o dia, para esquecermos da existência do sol e nos perdermos ali mesmo, na claridade e no ardor dos raios ultravioletas, e nos perdermos no puro e divino desejo.
Os sentimentos se aguçam mais, o beijo se torna mais molhado e o “Eu te amo” é sempre mais sincero. No escuro as pupilas se dilatam, a dilatação é a prova do desespero das almas que sempre procuram algo sincero para se firmarem.
Na noite sou mais eu, mais natural, mais animal, ainda mais sozinho, pois assim me torno bem mais “humano”.

Jordano Souza

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Afonso Misericórdia

Um jovem rapaz , de cabelos castanhos ondulados, aparecera na venda do Seu Arnaldo. Tinha um rosto sombrio, não sorria, não falava muito, apenas o essencial.
De sete em sete dias ele aparecia na venda sobre seu cavalo preto, cavalo este muito bonito, diga-se de passagem, cada qual mais misterioso que o outro. A única coisa que o moço dizia era que queria um caprichado trago de pinga e um torresmo para acompanhar seu gole.
Suas visitas passaram a ser mais frequentes, e os moradores daquela vila passaram a ficar mais curiosos com a presença do jovem, pois ninguém sabia suas origens e muito menos seus interesses naquela região tão isolada.
Alguns diziam ser um criminoso foragido, outros diziam que era um viajante solitário, diziam até que era uma alma penada, que estava vagando para pagar seus pecados. Mas o certo é que estavam todos errados.
Afonso Misericórdia era seu nome, Veloz era o seu cavalo, juntos completavam uma missão no sertão da Bahia, missão que ninguém sabia ao certo qual era. Afonso soltou em certa prosa com Arnaldo que trabalhava para alguém muito grande, e que esse trabalho tomava seu sono,
tomou sua família, seus amigos, seu sossego, sua vida.
Os boatos eram cada vez maiores, mas ninguém ousava perguntar.
Na Vila Funchal havia um cabra metido a ser valente, seu nome era José Colhões, já estava ficando enfurecido com o misterioso homem, pois o moço não despertava apenas curiosidade, também despertava interesse em todas as mulheres que se encantavam com sua magia e com seus longos cabelos castanhos.
Era 03 de outubro de 1957 quando Afonso Misericórdia fizera sua última visita à Vila Funchal, desceu devagar de seu cavalo, amarrou Veloz junto à uma árvore, e pediu seu último trago à Afonso, em 5 segundos já havia acabado com sua cachaça, acendeu um pito de palha e se sentou. Na sua frente em sua mesma mesa se sentou José Colhões e lhe perguntou:
- Quem é você cabra misterioso? Acha que pode chegar em nossa vila e nem se apresentar?
Afonso o olhou desviando o olhar da aba do chapéu e respondeu em um tom bem tranquilo:
- Não sou de seu interesse amigo, venho em uma missão de paz...
Depois dessas palavras Afonso colocou a mão no bolso de traz para tirar alguma coisa, sem pensar duas vezes José Culhões sacou o revólver e deu dois tiros no jovem. Afonso caiu agonizando no chão, segurando com muita força algo entre seus dedos.
José se precipitou e abriu as mãos do morto, tirando dela um colar em formato de coração.
José exibiu o colar para todos que estavam na Venda, enquanto mostrava o objeto se abriu, revelando duas fotos.
Naquele momento o terror foi profundo, gritos de desespero foram ouvidos a léguas de distância, uma foto era de Maria Antonieta, mãe de José Colhões, a outra era de Afonso Misericórdia, seu irmão desaparecido há 15 anos e que ali estava a procura de seus entes.
José foi encontrado morto dois dias depois, com o mesmo colar apertado em suas mãos e com uma bala cravada no peito.

Jordano Souza

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

RECEITA PARA UM BOM HERÓI

Afaste-se,sinta-se capaz de tudo.
Ofusque as estrelas,
Gorgeie melodias de acalanto,
Exagere,se embriague de virtudes.
Condene a moralidade medíocre,
Liberte seu espírito para insanidades experimentais,
Prejulgue o que acha torpe,
Se julgue eterno nas memórias.
Solte piruetas por meio de bandeiras e palavras.
Em nenhum momento perca a razão,
Lembre-se que tu és filho do pecado.
Levanta-te,o que fazes derrotado ainda?
O jogo não acabou,jogo em que somos os bispos,
Mas que não podemos mudar de lado em certos momentos banais.

Entorte o vento,doe sua alma.
Vista-se de um herói,nem que seja por um instante,
Derrote todo seu medo,desafie o impossível,
Desvende os mistérios.
Empurre as tempestades,jamais peça socorro.
Rasgue o que acha normal,
E lembre-se,finja entender o encanto do amor.


Jordano Souza

sábado, 3 de janeiro de 2009

Carta de Solidão

Eu estava sozinho em casa, triste, meio perdido, não sabia com quem conversar, não sabia nem o que falar caso alguém fosse me ver.
Acendi um cigarro, abri um vinho que certo dia ganhei de um amigo e estava esperando uma ocasião especial para tomá-lo, mas o que é ocasião especial?
Liguei o som, peguei um CD que estava guardado na gaveta do meu quarto, não me recordo bem o nome do artista, mas a música se chamava Sentimental. Sentei no sofá surrado marrom e comecei a ouvir.
O primeiro cigarro acabou, acabou também a música que eu coloquei para repetir, acendi outro cigarro, enchi minha taça. Me deliciei com o vinho e com o tabaco.
Não sabia que a solidão pudesse ser tão boa as vezes, mas em exagero ela nos causa um tumor maligno, nos faz pensar que não podemos confiar em ninguém.
De trago em trago eu pensava na vida, nas pessoas que já se foram, nos amores que tive, nos amores que não aproveitei, nos amores que espantei. Pensava como seria minha vida caso ela não tivesse partido. Mas aqui estou eu, setenta e cinco anos e nada a perder, o que poderia perder já perdi.
Não quero morrer nesse apartamento, ele é triste, minha vida não foi sempre triste, já fui jovem, já sorri, fiz pessoas sorrirem.
Do trabalho não tirei dinheiro, mas nele ganhei amigos, a maioria já se foi, no trabalho também conheci minha esposa, mas ela também já se foi.
Minha distração é escrever, no papel eu coloco aquilo que não teria coragem de falar nem para o meu psicanalista.
Fui à praia, andei no calçadão, onde conheci tanta gente, onde passeava na minha infância.
Nasci em Minas, na cidade de São Gotardo, mas ainda menino vim para o Rio de Janeiro com papai, que trabalhava em um banco federal.
Me espantei quando entrei nessa cidade, foi amor a primeira vista, pode parecer piegas mas é verdade. Vi as mulheres tomando sol em Ipanema, vi os homens jogando bola no Recreio, naquele momento decidi que era aqui que iria viver e morrer, só a brisa me bastava.
Sinto que está em minha hora, então resolvi escrever, para mostrar a todos que já fui feliz. Me mostrando eu posso ensinar aos outros como não se deve viver, dêem valor à vida, nas pessoas, nos amores, nos amigos.
Agora vou indo, dessa carta não espero resposta, a resposta de tudo na vida estou tendo nesse exato momento.

Jordano Souza

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Veneno

Hoje fumei um cigarro pensando em ti,e nos tormentos que me causou na noite passada,lembrei dos gritos,das lágrimas,dos maldizeres...Lembrei também da coxa vermelha que entrelaçava nossos corpos,mas a partir de hoje a cama estará vazia,restará apenas lembranças derradeiras de um pretérito perfeito.

Ah como seus gritos me acalmavam!Hoje o amor já está mais fraco,não é como o amor de ontem,ou como o prazer da semana passada.

Ah se o tempo voltasse!Cometeria os mesmos erros absurdos e insanos,coisas de quem ama demais,ou pelo menos coisas de quem já amou demais.

Em pequenos e súbitos tragos arranhando meu peito,vou despedaçando as melancolias desse sentimento errado,olhando para o teto vejo que a luz gira em torno de um círculo confuso,nos traz lembranças de um passado nada distante,nos consola de sonhos inesquecíveis e atrai fantasmas pro nosso presente.
Aos poucos vou morrendo com o veneno que você me deixou.


Jordano Souza