quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Um dedo de Prosa

Essa semana estava na Rodoviária de Brasília tomando um café, pensando na vida, e como sempre faço, comecei a observar as pessoas (vício de quem gosta de escrever). Avistei um homem sentado em um dos bancos de espera, tinha uma aparência bem singela, calça de linho, camiseta de campanha política, chapéu panamá já bastante sujo e sapatos bem desgastados. Tinha os olhos distantes, parecia estar ansioso para algum encontro especial.
Passou uns dez minutos e chegou outro rapaz, que se sentou no banco ao lado. Este era bem diferente do primeiro, usava tênis da moda, bermuda estampada, óculos escuros e tinha muito gel no cabelo. Mesmo com tanta diferença deve ter ficado curioso com o ar de mistério daquele sujeito ali parado, e começou a puxar papo:
- Boa tarde!
- Boa tarde senhor...
-Ta quente hoje hein?
- É... Demasiado.
- Você não é daqui, ou é?
- Sou não senhor.
- De onde veio?
- Minas.
- Olha só, conheço Minas!
- Bom uai...
- O que o senhor faz da vida?
- Escrevo.
- Interessante... E o que escreve?
- Palavras.
- Disso eu sei, mas qual o estilo do seu texto?
- Estilo do meu texto? Uai, ele é meio feio pra te falar a verdade, é que eu não frequentei muito tempo a escola, então minha letra não ajuda muito.
- Acho que não entendeu, não estou perguntando se sua letra é bonita, quero saber sobre o que gosta de escrever!
- Sei não.
-Não sabe sobre o que escreve?
-Nunca parei para pensar, escrevo sobre tudo, sobre a vida.
- Deixa pra lá!
- O senhor que cismou de perguntar!
- Ta bom, desculpa. Pra onde vai viajar?
- Vou ver minha mãe.
- Que bom, e onde ela mora?
- Acho que é em Aparecida do Norte.
- Você acha?
- É...
- E como pretende encontrá-la?
- Quem tem boca vai à Roma, oras!
-Acha que vai ser fácil assim?
- Só vou saber se tentar...
-E se não encontrá-la?
-Sinto que encontrarei.
- Santa Maria! E como é o nome dela?
- Esse mesmo...
-Esse mesmo?
-É...
-Esse qual?
-Santa Maria.
Emocionei ao ouvir a última resposta do misterioso rapaz. E confesso que senti uma pontinha de inveja, minha vida seria um fardo bem mais leve se tivesse pelo menos um terço dessa pureza nos meus pensamentos.

Jordano Souza

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