quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Desabafo

Nesse ultimo dia do ano irei postar algo que escrevi a muito tempo atrás.Não me preocupava com a forma que escreveria, mas sim com o que transmitiria...
Escrevi esses versos a 4 anos atrás, mas ainda hoje são atuais para mim.


Jamais poderei transmitir com minha boca
O que sinto por dentro,
Jamais poderei pedir socorro
Com o coração se fragmentando em emoções,
Jamais seria egoísta a ponto de dizer que sou frágil
Quando meu criador esbanja sofrimento.

Por que não esconder comigo?
Por que não lutar contra meu eu?
Nem pensamentos,nem a ciência
Jamais explicariam a força
Que nos proporciona um sentimento maior...

Maior que a fragilidade
Maior que a luta dos nossos interiores.
Então registro em papeis palavras
Que nunca decifrarei depois desse vão momento.


Jordano Souza

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Meu Plano

Meu plano seria infalível,
Seria calmo como uma fotografia antiga,
Abusivo como uma dançarina de bordel,
Acolhedor como um sermão de domingo.

Colheria várias flores
Vermelhas como seu batom predileto.
Oraria shakespeare aos seus ouvidos,
Demonstraria o amor que jamais recitei.

Cantaria nossa música,
Ou tocaria aquele acorde dissonante.
Riríamos de tantos momentos desconcertantes,
E lamentaríamos por tão pouco tempo juntos.

Dir-lhe-ia minhas aflições,
Meus segredos mais singelos.
E confessaria que ainda hoje
Lembro das ultimas palavras que me disse:
“Deus te abençoe”

Quem sabe não te encantes com meu plano
E resolvas me visitar?
Espero-lhe sorrindo, com os olhos aguados,
Na certeza de que minha felicidade
Em seus braços transbordaria.


Jordano Souza

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Nostalgias

Aqueles dias sempre estarão presentes na minha vida,
Dias de glória de prazer e salvação.
Fui feliz sem fazer idéia,
Na névoa embaçada escondi minha felicidade.
Resolvi reservá-la para mim, fui egoísta
Refugiei-me à goles de melancolia.
Fui refém do egoísmo, me senti como um mercenário
Pronto para vender meu próprio coração.

Fingi não sentir o cheiro dos bons momentos,
O que se passava em mim parecia ser mais interessante.
Erros cometidos que nos trazem a sensação de saudade,
Mas é apenas nostalgia de um momento passado.
Nostalgias simples, diretas e secas,
Não nos enganam nem nos ensinam,
Nos mostram apenas o sentido errado dos valores.

Jordano Souza

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Visitas Impertinentes

Rosana fora nascida e criada em São Paulo, educada em uma escola de freiras, pouco contato teve com os perigos da vida, jamais saiu sozinha durante a noite, e nem nos tempos da faculdade se acostumou com as badalações.
Vivia em um apartamento no Morumbi, morava com sua mãe e com Doralice, sua irmã mais velha, seu pai havia suicidado há 16 anos, quando ainda era pequenina. Doralice era o oposto de sua irmã, boa vivã, sempre aproveitou a vida ao extremo, teve muitos namorados e conheceu vários lugares
Apesar do tamanho e do alto índice de criminalidade de São Paulo, a família Vieira nunca tinha sofrido com violência, Rosana e Dalva, sua mãe, sempre tomaram todos os cuidados quanto à isso, mas Doralice...
Era uma manha de domingo, o relógio apontava nove horas, e Doralice ainda não havia chegado em casa, e para aumentar o desespero da família o seu celular estava desligado. Claro que Rosana e Dalva pensaram o pior, e infelizmente o sentido feminino das duas estava certo. Doralice estava saindo da boate “Night Bórium” quando foi alvejada mortalmente por uma bala perdida.
Depois de vários meses de puro desespero as sobreviventes da família Vieira resolveram se mudarem de São Paulo, havia uma tia de Dalva que morava no interior, mais especificamente em Jaboticabal. Venderam o apartamento no Morumbi e uma casa antiga que tinham na Avenida São João e com o dinheiro das negociações compraram uma fazenda na cidade de destino.
A adaptação à vida interiorana foi fácil para as duas, pois aquele espírito pacato de Rosana tinha sido herança de sua mãe, que foi criada no interior. Acordavam bem cedo para ordenhar as vacas e ajudar Seu João a pastorar as ovelhas, tiravam da lã e do leite o sustento da fazenda. À cidade iam apenas aos finais de semana, para fazer compras e almoçar em algum restaurante de comida mineira.
Nos domingos a dor pela perda de Doralice aumentava, durante a semana ainda conseguiam disfarçar tal sofrimento, mas o domingo guardava uma ressaca de melancolia que se espalhava por toda a fazenda, nem a roda de viola que Seu João organizava amenizava a dor.
Havia dias que Rosana não conseguia dormir, barulhos macabros estavam assombrando a velha casa de assoalho. Era inevitável, todos os dias quando o relógio da sala marcava três horas da manhã em ponto, podia-se ouvir vários passos na cozinha, panelas caindo e gruídos que assemelhavam-se à risadas.
No início Rosana pensava ser sua irmã que à vinha visitar, pois a madrugada era o momento do dia preferido de Doralice. Levantava-se e ia até a cozinha tentar contato, mas tudo que encontrava era um cenário totalmente desarrumado, com comida e panelas pelo chão. Dalva também não deixara de observar aqueles acontecimentos estranhos, e passou a ter dificuldades para dormir.
Histórias não faltavam, ouviram dizer que um antigo dono do sítio havia se enforcado na mangueira do quintal - cortaram a mangueira! Também disseram que um capitão do mato tinha esquartejado um escravo fujão na casa de madeira que se localizava à direito da casa principal - derrubaram a casa! Disseram também que uma garotinha havia se afogado no rio que passa rente à fazenda, mas do rio não podiam se livrar!
Chamaram padres, pastores, bezendeiras, pais e mães de santo, mas ninguém resolveu a situação, pelo contrário, cada visita só aumentava os barulhos.
Como nem os religiosos conseguiram resolver o problema, as duas decidiram resolver por si próprias, passaram a dormir na sala, e toda vez que o relógio marcava três da manha saiam correndo em direção à cozinha, e não encontravam absolutamente nada! “Esse espírito é realmente muito ágil” pensavam as duas intregadas.
Seguindo o conselho de Dona Dulce, tia de Dalva, começaram a dormir na próprio cozinha, e Dulce estava certa, se aproximando do território inimigo há mais chances de encontrá-lo.
Já na segundo noite que dormiram no local, Rosana foi atacada pela entidade maligna. Estavam as duas deitadas ao lado da mesa de sucupira, quando Rosana sentiu algo passeando sobre seu corpo, como se fossem pequenos dedos lhe massageando a pele macia, no inicio pensou ser sua mãe, mas quando fitou sua barriga enxergou dois olhos vermelhos arregalados lhe encarando. Deu um grito imenso acordando toda a fazenda, sua mãe aterrorizada levantou em um pulo já com a espingarda em mãos!
Talvez Rosana e Dalva preferissem que fossem realmente almas penadas que estivessem assombrando a casa, mas era muito pior aos olhos delas, o que diziam ser espíritos não passavam de pequenos roedores que iam à cozinha durante a noite para assaltar os restos de pães que ficavam sobre a mesa...


Jordano Souza

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Um dedo de Prosa

Essa semana estava na Rodoviária de Brasília tomando um café, pensando na vida, e como sempre faço, comecei a observar as pessoas (vício de quem gosta de escrever). Avistei um homem sentado em um dos bancos de espera, tinha uma aparência bem singela, calça de linho, camiseta de campanha política, chapéu panamá já bastante sujo e sapatos bem desgastados. Tinha os olhos distantes, parecia estar ansioso para algum encontro especial.
Passou uns dez minutos e chegou outro rapaz, que se sentou no banco ao lado. Este era bem diferente do primeiro, usava tênis da moda, bermuda estampada, óculos escuros e tinha muito gel no cabelo. Mesmo com tanta diferença deve ter ficado curioso com o ar de mistério daquele sujeito ali parado, e começou a puxar papo:
- Boa tarde!
- Boa tarde senhor...
-Ta quente hoje hein?
- É... Demasiado.
- Você não é daqui, ou é?
- Sou não senhor.
- De onde veio?
- Minas.
- Olha só, conheço Minas!
- Bom uai...
- O que o senhor faz da vida?
- Escrevo.
- Interessante... E o que escreve?
- Palavras.
- Disso eu sei, mas qual o estilo do seu texto?
- Estilo do meu texto? Uai, ele é meio feio pra te falar a verdade, é que eu não frequentei muito tempo a escola, então minha letra não ajuda muito.
- Acho que não entendeu, não estou perguntando se sua letra é bonita, quero saber sobre o que gosta de escrever!
- Sei não.
-Não sabe sobre o que escreve?
-Nunca parei para pensar, escrevo sobre tudo, sobre a vida.
- Deixa pra lá!
- O senhor que cismou de perguntar!
- Ta bom, desculpa. Pra onde vai viajar?
- Vou ver minha mãe.
- Que bom, e onde ela mora?
- Acho que é em Aparecida do Norte.
- Você acha?
- É...
- E como pretende encontrá-la?
- Quem tem boca vai à Roma, oras!
-Acha que vai ser fácil assim?
- Só vou saber se tentar...
-E se não encontrá-la?
-Sinto que encontrarei.
- Santa Maria! E como é o nome dela?
- Esse mesmo...
-Esse mesmo?
-É...
-Esse qual?
-Santa Maria.
Emocionei ao ouvir a última resposta do misterioso rapaz. E confesso que senti uma pontinha de inveja, minha vida seria um fardo bem mais leve se tivesse pelo menos um terço dessa pureza nos meus pensamentos.

Jordano Souza