sábado, 3 de janeiro de 2009

Carta de Solidão

Eu estava sozinho em casa, triste, meio perdido, não sabia com quem conversar, não sabia nem o que falar caso alguém fosse me ver.
Acendi um cigarro, abri um vinho que certo dia ganhei de um amigo e estava esperando uma ocasião especial para tomá-lo, mas o que é ocasião especial?
Liguei o som, peguei um CD que estava guardado na gaveta do meu quarto, não me recordo bem o nome do artista, mas a música se chamava Sentimental. Sentei no sofá surrado marrom e comecei a ouvir.
O primeiro cigarro acabou, acabou também a música que eu coloquei para repetir, acendi outro cigarro, enchi minha taça. Me deliciei com o vinho e com o tabaco.
Não sabia que a solidão pudesse ser tão boa as vezes, mas em exagero ela nos causa um tumor maligno, nos faz pensar que não podemos confiar em ninguém.
De trago em trago eu pensava na vida, nas pessoas que já se foram, nos amores que tive, nos amores que não aproveitei, nos amores que espantei. Pensava como seria minha vida caso ela não tivesse partido. Mas aqui estou eu, setenta e cinco anos e nada a perder, o que poderia perder já perdi.
Não quero morrer nesse apartamento, ele é triste, minha vida não foi sempre triste, já fui jovem, já sorri, fiz pessoas sorrirem.
Do trabalho não tirei dinheiro, mas nele ganhei amigos, a maioria já se foi, no trabalho também conheci minha esposa, mas ela também já se foi.
Minha distração é escrever, no papel eu coloco aquilo que não teria coragem de falar nem para o meu psicanalista.
Fui à praia, andei no calçadão, onde conheci tanta gente, onde passeava na minha infância.
Nasci em Minas, na cidade de São Gotardo, mas ainda menino vim para o Rio de Janeiro com papai, que trabalhava em um banco federal.
Me espantei quando entrei nessa cidade, foi amor a primeira vista, pode parecer piegas mas é verdade. Vi as mulheres tomando sol em Ipanema, vi os homens jogando bola no Recreio, naquele momento decidi que era aqui que iria viver e morrer, só a brisa me bastava.
Sinto que está em minha hora, então resolvi escrever, para mostrar a todos que já fui feliz. Me mostrando eu posso ensinar aos outros como não se deve viver, dêem valor à vida, nas pessoas, nos amores, nos amigos.
Agora vou indo, dessa carta não espero resposta, a resposta de tudo na vida estou tendo nesse exato momento.

Jordano Souza

2 comentários:

  1. Pô, cara, cê escreve muito bem, parabéns. Seu blog tá ótimo, também.
    Abraços.

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  2. Você já sabe o que eu acho dos teus textos, né?Escritor/poeta/maluco.
    Abraço!!!

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